A vida como ela é

Empreendedorismo Feminino 08/06/2022

Olá mulheres incríveis 🌷

De repente pisquei e Junho chegou. Você está com a mesma sensação daí né?!? Certeza que sim. O tempo continua sendo o mesmo, o dia com as mesmas 24 horas de sempre, as estações do ano não mudaram, mas nós mulheres, meu Deus do céu né 😱

A cada dia que passa assumimos mais compromissos e responsabilidades, e fazê-los caber dentro de um dia, uma semana e até um mês, já vem se tornando um dos grandes desafios femininos nessa vida. É bom fazer aquela pausa forçada para dar uma reavaliada na vida, corrigir a rota, revisitar as metas do ano, organizar o segundo semestre e principalmente, cuidar de você mesma. Porque se tem uma coisa que nós fazemos muito bem é cuidar das outras pessoas primeiro e nos deixar para o final da lista. ☹️

Mas vamos lá meninas, muito tempo sem aparecer por aqui e são tantas emoções pra contar, que vou precisar me conter e ir por partes.

Quero falar da foto que está representando esse texto aqui.

Em Maio o Ela Pode presencial foi retomado, depois de mais de 02 anos acontecendo 100% online. Para quem ainda não conhece esse programa incrível, o Ela Pode é o maior programa de capacitação para mulheres do Brasil. Já foram mais de 220.000 mulheres impactadas por ele. Eu atuo como Multiplicadora do Ela Pode desde o início do programa, comecei em 2019 e continuo aqui até hoje. Honrada, feliz e muito certa do quanto o Ela Pode transformou, transforma e continuará transformando vidas.

O primeiro Ela Pode de 2022 presencial, estava adormecido desde quando a pandemia apareceu. Tínhamos planejado estar com as detentas da Pimenta da Veiga logo após o Ela Pode com as detentas da Jacy de Assis. Mas o tempo freou. É tudo no tempo de Deus né meninas, nunca no nosso.

A hora chegou!

Uma manhã inteira com 104 mulheres presas. Sentenciadas ou não, elas vivem em celas pequenas, sem estrutura digna, dividem as mesmas com 07 até 10 mulheres, dormem em colchões finos no chão e tomam banho frio pela manhã. Quer queiram ou não.

Usam uniformes vermelhos, lavam os cabelos quando alguém envia shampoo e se agarram às cartas para contar os seus anseios vividos ali dentro. Tem sabonete, escova e pasta dental. Cigarros também. Uma biblioteca disponível, com um pobre acerbo literário e muito pouco frequentada.

Um dia eu disse às detentas da Jacy de Assis: estar presa aqui lendo ocupa melhor a mente. E uma delas me respondeu: só no início, depois você não aguenta mais. O meu olhar de fora jamais será capaz de enxergar o olhar delas de dentro. Nos presídios a empatia bate na sua cara o tempo inteiro. O que assistimos pela TV, vemos em documentários, lemos nos jornais, é muito fora da realidade. Nem imaginando conseguimos chegar próximo do que elas passam ali de verdade. É um mundo paralelo que cria o seu próprio universo, enquanto umas confiam na liberdade que vai chegar e outras já não confiam em mais nada. Estão certas e convencidas que as marcas à ferro que a ficha na cadeia impõe a elas, jamais sairão. Antes de serem marcadas pelo sistema, pela sociedade e pela própria família, elas mesmas já se marcaram.

Me peguei pensando aqui agora naquela imagem, mulheres mais velhas, meninas muito novas, de todas as cores, raças e etnias, engana-se quem acredita que tem mais negras do que brancas, não tem não. Falam bem, são articuladas, desejam ao extremo serem ouvidas, ter voz, algumas tímidas, outras não, muitas mães e todas filhas. O homossexualismo vai ganhando força não por opção, mas pela carência. E quantas delas lindas, belas mulheres e todas elas com uma história forte emaranhada nos traços do rosto, nas marcas de sol, na pele cansada, no semblante modificado e nas mentes que só elas conhecem.

Tem choro, tem lágrimas, tem secura naquelas que a dor já cuidou de petrificar as emoções. Tem muitas risadas, alegria demonstrada, sentida não dá pra saber, uma abertura muito grande contando a versão delas dos fatos.

Nenhuma é culpada.

Porque a minha forma de enxergar a culpa é tão individual quanto à de cada uma delas. A culpa assumida é o veredito da auto condenação. E por mais que lá dentro doa e ressinta cada erro, cada escolha que a levou a estar ali, se autocondenar torna a esperança mais difícil.

Esperar…é tudo que elas tem dentro daquelas grades frias, sem cor e de uma mente que vai adoecendo, na medida que se alimenta da parte ruim que todas são capazes de criar. Esperar por mais um dia, esperar por mais uma visita, esperar por uma carta de resposta, esperar por alguém que as enxergue, esperar por uma chance de fazer algo que reduza a pena, esperar em Deus, na fé e na crença de que um dia o coração estará tomado de tanta vontade de recomeçar, que a dor não será mais sentida.

As marcas sempre estarão lá, mas só elas sabem.

Relato de um dia que ficará para sempre marcado em mim, de um jeito diferente, mas desde que eu escolho entrar no mundo delas, eu sou uma mulher marcada também.

Love, Lu.


Lu de Souza

Fundadora do Moeda de Troca, Empresária e atuante nas conexões femininas como uma ferramenta que muda seus negócios e vidas.

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