São 18:49hs...
Neste exato momento parei sem poder, sem dedicar tempo à isso, para começar a pensar no que eu escreverei hoje.
Afinal sempre colocamos quem somos e aquilo que fazemos, acreditamos ou almejamos fazer, bem aqui. E com a mente acelerada, pensamentos inquietos, a Carol me chamando para procurar o livro de Ciências, sequer retirei os sapatos ainda, várias mensagens sem resposta e os compromissos do dia ainda não estão todos riscados na agenda. E hoje é o aniversário do meu pai, ainda bem que enviei a primeira mensagem do dia para o homem mais importante da minha vida.
E agora, vamos falar sobre o que hoje Lu?!? Exatamente sobre isso.
O tempo que já não exerço mais controle sobre ele. A vida que tem nos empurrado contra a parede e de forma quase imperceptível, nem sentimos tudo que está acontecendo. Acredito que nós, principalmente as mulheres, nunca consumimos tanto dos nossos dias com tarefas que parecem brotar do chão.
Já marejei os meus olhos, agora mesmo. Olhando para a mesa do meu escritório em casa, vendo quanta coisa ainda por fazer, sequer consegui abrir as cortinas das portas e janelas, porque não tenho tempo para isso. Sinto fome, mas não tenho tempo para comer. Sinto que a minha filha me quer ali para brincar meia hora com ela, e o tempo para essa atividade mais gostosa, onde ele está?!?
Meus olhos monitoram o relógio porque ainda tenho dois boletos para pagar antes que o Internet Banking não aceite mais. Quero organizar as minhas peças para o bazar de amanhã, ler o capítulo dois do livro que comprei essa semana, a Carol tem muitas tarefas ainda a serem feitas, um banho, pelo amor de Deus, preciso de um banho.
E tem aquelas ideias que chegaram desgovernadas e eu anotei no bloco de notas do celular. Preciso pensar nelas, fazer análises, entender melhor onde elas podem se encaixar e rápido, senão a linha de raciocínio se perde fácil. Ligações para retornar, entender sobre os dados que me chegaram hoje à tarde e não perder o foco nas questões que eu me comprometi a resolver hoje ainda.
Minha respiração já está mais lenta, aquela euforia da vida agitada cotidiana já abaixou um pouco, já consigo escrever enquanto negocio uma pausa com a Carol e tenho que colocar as roupas para bater na máquina sem falta. Ainda pensando no jantar.
E só por alguns segundos eu não escrevi nenhuma linha. Eu abri a janela, fechei o computador, porque hoje o texto foi pelo celular mesmo, senti o vento no rosto e o cheiro delicioso do jantar sendo preparado por alguém que eu não conheço. E dei play numa música, que tanto me inspira sempre, e que a correria insana me faz até esquecer disso.
Uma sensação de estar desacelerando. Mesmo sabendo que é só por agora, já já o frenesi vai tomar conta de mim inteira em questão de segundos. Vou virar uma mulher, profissional, mãe e dona da minha casa meio polvo, e fazer mil coisas ao mesmo tempo. Mas agora consigo sentir que eu estou aqui. Consigo me perceber de verdade, com tempo para isso.
Os sons são percebidos, vindos de diferentes lugares e pessoas. Os cheiros, nossa como eu sou apaixonada por cheiros, eu tenho a sensação que eles conversam comigo. Percebo um breve silêncio por aqui e isso é muito bom. Eu sempre digo que eu funciono bem com essa celeuma toda, e funciono mesmo. Mas até quando?!? Até quando vamos dar conta de tudo?!? E temos mesmo que dar conta de tudo?!? Até quando vamos conseguir entregar mais do que aguentamos?!?
Não existe agenda com pausa. Ou eu decido pausar, ou nada acontece. Fácil? Jamais será! Impossível? Só se eu permitir que se torne. Quem manda sou eu. Quem decide aqui sou eu. Retome as rédeas da sua vida, rotina, trabalho, família, casa, relacionamentos, agora. Estamos perdendo o controle. Dando espaço para atividades que não precisamos. Colocando na agenda compromissos que não vão fazer diferença nenhuma.
E me vem novamente toda a questão do NÃO. Eu que sempre tive imensa dificuldade em dizer não para as pessoas, deixei-me engolir pelo sim. E o sim descuidado, pelo bel prazer do não contrariar nada e nem ninguém, acaba contrariando a pessoa mais importante que existe: eu mesma.
Dentro dos meus sims é preciso prevalecer muitos nãos. Porque não retornar as ligações hoje, não riscar todos os compromissos da agenda, não pensar no que eu anotei ontem, só vai mudar uma coisa: o tempo para fazer aquilo que eu desejo agora. O tempo de viver. O tempo de me ausentar. O tempo de aceitar que eu não consigo fazer tudo que a vida tem exigido de mim. O tempo de tomar meu banho ouvindo uma boa música, demorar nele e não me culpar por isso.
A vida é agora. O tempo não vai parar para decidirmos nada aqui. Ele vai continuar independente do nosso ritmo, das nossas escolhas e prioridades. Mas quem vai usar cada segundo, cada minuto e cada hora desse mesmo tempo, sou eu e você. Use esse tempo com sabedoria. O arrependimento não vai trazê-lo de volta, mas a tomada de consciência vai fazer com que não sintamos vontade de voltar no tempo.
Terminei meu texto, juntei os papéis e documentos da mesa, vou fechar a janela, apagar essas luzes e sentar ali com a minha filha para criarmos qualquer coisa juntas. Vou ali mostrar para o tempo que quem manda sou eu.
Fundadora do Moeda de Troca, Empresária e atuante nas conexões femininas como uma ferramenta que muda seus negócios e vidas.